O Dia Internacional de Apoio às Vítimas de Tortura foi lembrado em Santa Catarina. Na noite desta quarta-feira, 26 de junho, o plenarinho Deputado Paulo Stuart Wright, da Assembleia Legislativa de Santa Catarina, sediou a primeira atividade do Ciclo de Debates da Comissão de Prevenção à Tortura, pela Comissão Estadual Pró-Sistema de Prevenção e Combate à Tortura com o apoio do Conselho Regional de Psicologia (CRP-SC). O local do primeiro encontro foi simbólico, já que Wright, deputado cassado pelo Ato Institucional no 5, é desaparecido político desde 1973, quando foi preso pelos militares e nunca mais encontrado.
Até o mês de dezembro, estão agendados mais quatro debates, com objetivo de alertar e manter viva a memória e combater os discursos de ódio, a negação do regime de exceção e a tortura no Brasil. “A Comissão de Combate à Tortura realiza este trabalho há quatro anos, promovendo diversas ações sobre o tema. Temos ainda uma resistência muito grande do Estado e da própria sociedade catarinense em reconhecer seu passado”, afirma Yara Hornke, psicóloga e colaboradora da Comissão de Direitos Humanos do CRP-SC e uma das componentes da mesa que relataram suas histórias de opressão vivida durante o Regime Militar (1964-1985).
Com a presença de vítimas da ditadura militar, a discussão contou com a mediação de Marilena Deschamps, psicanalista que trabalha com grupos de apoio às vítimas. Segundo ela, como houve um silenciamento sobre algo que o Estado deveria se responsabilizar, a tortura ainda prevalece em alguns cenários. “Corremos um grande risco que isso se repita, mesmo após 50 anos”. Deschamps afirma que nem mesmo a Lei da Anistia ajudou a “ajustar” o passado. “A Lei é ambígua e viabiliza que alguns sujeitos continuem impunes.”
Entre os presos e violentados pela ditadura que marcaram presença no debate, João Rocco relatou sua história. Ele, que fazia parte da luta armada, foi capturado pelos militares, torturado e baleado nas cordas vocais, o que comprometeu sua capacidade de fala. “Era uma desigualdade lutar contra aquilo, a estrutura do governo era brutal. Eles não perdoavam”, relatou.
Outra vítima do Regime, Marlene Soccas, contou a sua experiência quando foi torturada, “Eu estava em São Paulo, estudando quando fui presa pela Operação Bandeirantes. Era parte do povo brasileiro que resistia contra a ditadura”, contou. Na ocasião ela distribuiu o livro “Meu Querido Paulo” em que descreve a sua história e sua relação de amizade com Paulo Stuart Wright.
A presidente da Comissão dos Direitos Humanos da Assembleia Legislativa, deputada Ada de Luca (PMDB), filha do deputado Addo Vânio Faraco, que também foi preso político, afirma que é importante organizar palestras e discussões sobre o tema. “Um país sem história é um país sem memória, ou seja, tudo que vêm explicar o passado, principalmente para os jovens, precisa ser debatido”, concluiu.
Confira a programação do próximo ciclo de debates da Comissão Pró-Comitê de Prevenção e Combate a Tortura:
http://www.crpsc.org.br/noticias/ciclo-de-debates-da-comissao-de-prevencao-a-tortura