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Conselho Regional de Psicologia Santa Catarina - 12ª Região



Seminário discute sobre a despatologização das travestilidades e transexualidades


Seminário discute sobre a despatologização das travestilidades e transexualidades
2017-06-29

Com o intuito de debater sobre o compromisso da psicologia diante dos processos de patologização das travestilidades e transexualidades e as possíveis práticas de resistência em tempos de retrocesso, o Conselho Regional de Psicologia da 12ª Região (CRP-12) promoveu o II Seminário despatologização das travestilidades e transexualidades. A atividade foi realizada no dia 27 de junho, das 19h às 22h, no Auditório do Conselho Regional de Contabilidade, em Florianópolis, e estiveram presentes cerca de 80 pessoas.

O evento contou com a participação de Hailey Kaas (Ativista Transfeminista); Christian Mariano (Homem trans ativista); e Tatiana Lionço (Drª em Psicologia da Universidade de Brasília), como palestrantes. Já como representantes do CRP-12, estiveram presentes Jaira da Silva Rodrigues, Conselheira Presidenta; e Ematuir Teles de Sousa, Presidente da Comissão de Direitos Humanos e membro do GT Gênero e Sexualidades.

As(os) palestrantes trouxeram importantes reflexões acerca do tema, em especial, nestes tempos de  constantes perdas de direitos que vivemos atualmente no Brasil. Quanto à despatologização, segundo Jaira, para se ter acesso a um direito,  não deveria ser necessário ter um “diagnóstico”. Ademais, pensar na despatologização é trazer o mínimo de dignidade para as pessoas trans. As possibilidades de acesso às políticas públicas, bem como, as garantias de direitos devem ser destinadas a todas e todos, sem distinção.

Complementando, Hailey Kaas enfatizou que é fundamental pensarmos no direito a um atendimento público de qualidade. “Buscamos uma qualidade de vida que não temos na sociedade, e a única forma de conseguir acessá-la é pela despatologização”. Há um distanciamento das pessoas trans na sociedade e, além disso, percebe-se que a maioria dos profissionais não está preparado para atendê-las. Segundo a palestrante, é necessário trazer estas pessoas cada vez mais para os debates da psicologia, reivindicando um espaço para viver com dignidade, enquanto seres humanos e enquanto trabalhadoras(es) também. 

O ativista Christian Mariano esclarece que a maioria da população trans não deseja a cirurgia e que ele próprio busca romper com padrões, com o capitalismo e com o machismo, em uma luta diária contra os preconceitos vividos. “É preciso muita força de vontade para romper barreiras, pois o sofrimento é gravado no corpo, é algo biológico. Além disso, acredito que a questão da doença - se é que ela existe - é somente antes de as pessoas se aceitarem como são, pois todas(os) temos essa diversidade dentro de nós”.

O Conselheiro Ematuir relatou sobre as oficinas realizadas na sede e subsedes do CRP-12 no primeiro semestre de 2017, destacando que um dos principais elementos citados nas atividades foi a respeito de as(os) profissionais psicólogas(os) serem bastante demandados sobre o tema, e que, mesmo assim, não há uma suficiente discussão nas universidades.

Tatiana Lionço ressalta que ainda é pouco o que a psicologia tem feito com relação à transexualidade e que a área participa deste processo de um modo paradoxal, em resistência à subalternização do discurso médico. Em complemento ao que Ematuir trouxe a respeito das oficinas, a palestrante concorda que não há sequer uma crítica à hegemonia da retórica médica nos cursos de psicologia. Há um abismo entre a academia (produção discursiva na lógica da despatologização) e os profissionais que estão no mercado de trabalho.

Além de os profissionais não conseguirem acompanhar a produção acadêmica por diversos motivos, se eles não forem “críticos”, fatalmente acabarão seguindo por esta lógica patologizadora. Segundo Tatiana, a patologização interessa a uma ordem moral e hegemônica, e àqueles que estão comprometidos com uma lógica patriarcal.

Em especial sobre o momento histórico que estamos vivendo no Brasil, as(os) palestrantes avaliam que há um desmonte de direitos, principalmente do Sistema Único de Saúde (SUS), além de um golpe da hegemonia biomédica. Importante salientar que o ataque ao SUS e à Resolução 01/1999 - que estabelece normas de atuação para psicólogas (os) em relação à orientação sexual - têm como principais interlocutores profissionais psicólogos e fundamentalistas religiosos, o que torna a situação ainda mais caótica.

Assim, a discussão da psicologia em torno da lógica da despatologização e em defesa do SUS, e o fortalecimento da luta pela saúde pública deve não apenas reafirmar a Resolução 01/99, mas sim, lutar pela criação de uma Resolução que trate especificadamente da despatologização, finaliza Tatiana.  

Matéria e fotos: Sidiane Kayser Schwinzer / Assessoria de Comunicação CRP-12


Assista o vídeo do II Seminário Despatologização, na íntegra, clicando no link:  https://www.youtube.com/watch?v=kLIHxxwwmlo

 

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