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Conselho Regional de Psicologia Santa Catarina - 12ª Região



CRP-SC nas ruas em defesa da Educação


CRP-SC nas ruas em defesa da Educação
2019-05-22

Em uma das maiores manifestações já vistas em Florianópolis, 20 mil pessoas (segundo a Polícia Militar - organizadores citam 30 mil pessoas), entre estudantes, professores, servidores públicos e trabalhadores, saíram às ruas da cidade para protestar contra os cortes de no orçamento da Educação, previsto pelo Ministério da Educação (MEC). 

O bloqueio atinge 63 universidades, 38 institutos federais de ensino e será aplicado sobre gastos não obrigatórios, como água, luz, funcionários terceirizados, obras, equipamentos e realização de pesquisas. As despesas obrigatórias, como assistência estudantil e pagamento de salários e aposentadorias, não seriam afetadas, segundo o MEC.

Apenas quatro meses depois da posse presidencial, essa é a primeira demonstração pública de insatisfação popular contra as decisões do Governo Federal. Além de Florianópolis, Joinville, Itajaí, Blumenau, Camboriú, São Francisco do Sul, Lages, Criciúma, São Miguel do Oeste, Concórdia e Chapecó registraram protestos. Ao todo, 221 cidades brasileiras organizaram movimentos similares em todas as unidades da federação. Na cidade do Rio de Janeiro, as estimativas apontaram mais de 250 mil pessoas nas ruas.

Em Florianópolis, entre carros de som, batucadas e brados contra o presidente, a caminhada pacífica reuniu sindicatos, partidos políticos, organizações civis, grêmios estudantis e conselhos profissionais, entre eles o Conselho Regional de Psicologia de Santa Catarina (CRP-SC). 

Ao longo do dia, a marcha saiu de vários pontos da cidade, entre eles a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a Universidade Estadual do Estado de Santa Catarina (Udesc) e o Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC). Às 17 horas, os diversos grupos se encontraram na Praça XV de Novembro, em frente à Catedral e seguiram pelas ruas do Centro, chamando a atenção de trabalhadores e cidadãos.

O CRP-SC decidiu apoiar a manifestação por avaliar, principalmente, que os cortes afetarão a qualidade da profissão. “Nós atuamos pela orientação, fiscalização e disciplinamento do exercício profissional da psicologia, que depende de uma formação universitária de qualidade para atuar com ética. Além disso, o Conselho utiliza parâmetros científicos e produção científica das universidades públicas, em sua maioria, para uso na prática profissional. Portanto, acreditamos que é uma pauta que devemos apoiar por ter um reflexo direto ao que é importante para o Conselho: a qualidade do ensino da Psicologia no Brasil”, defendeu o conselheiro Rodrigo Gomes Ferreira.

Tanta gente, tantas vozes

“Eu não esperava tanta gente, professores, estudantes, é muito bom ver o povo nas ruas”, exaltou a professora de Psicologia da Unisul, Ana Maria Lima da Luz. Ela avalia que as pessoas enfim estão externando a indignação presente nas redes sociais para algo real. “Não é pouca coisa o que está acontecendo no Brasil, essa é uma luta movida pela dor do retrocesso e quem se silenciar diante deste movimento, é conivente”, declarou, lembrando que “a Psicologia, como parte das ciências humanas, será uma das primeiras áreas a ser afetada”, destacou.

Para psicólogo e professor aposentado da UFSC, Marcos Ferreira, as pessoas não estão marchando apenas pela educação, mas sim para defender o Brasil de um ataque civilizacional. “Quando se corta verba da Educação, significa que eles querem um retrocesso da civilização brasileira, atacar a cultura, a formação profissional, a produção de conhecimento, a autonomia científica. Uma manifestação deste porte não é apenas porque professores vão ficar sem bolsas ou alunos vão ficar sem aulas, mas porque ninguém aceita mais retrocessos na sociedade. Vimos gente de todo o tipo na marcha, ou seja, mexeu com todos, não dá pra voltar atrás”, refletiu.

Ferreira também considera o papel da Psicologia fundamental neste processo: “Psicologia só rima com Democracia e esse corte é um ataque ao processo democrático. Os profissionais devem estar ocupando estes espaços para a ajudar a desvelar os processos de opressão, de assédio moral e físico que este governo promove”, advertiu.

Outra psicóloga, Gabriela Milan, reiterou que a Psicologia precisa começar a compreender o seu espaço como ciência e profissão. “Ainda estamos muito ligados apenas ao trabalho profissional de cuidado com a Saúde Mental. Precisamos discutir a conjuntura social que está doente, repensar as questões sociais, ter um papel político de defesa de uma sociedade sadia. Ou seja, além do trabalho individual de Saúde Mental, acredito que precisamos pensar temas como este de forma coletiva”, disse. 

Já na avaliação do aluno do sexto ano de Psicologia da UFSC, Vítor Martins, afirma que todas as conquistas feitas no Brasil foram a base de muita luta e essa é mais uma. “Quando a Psicologia se coloca nesse papel de participar dos processos de conquistas emancipatórias, ela está justamente afirmando o compromisso social com as pessoas”, argumentou. Vítor complementa que durante muito tempo a profissão ficou restrita ao consultório e que hoje a profissão ocupa cada vez mais espaços coletivos. “Hoje temos uma subversão dessa lógica, ou seja, estamos mais presentes em ambientes mais comunitários. Mudou o significado, o sentido da profissão, com pautas realmente comuns a todos e não somente aquelas que estão dentro de um contexto individual”, exemplificou.

A servidora pública da Secretaria Municipal de Saúde, Marcela Albuquerque alegou que, como cidadã, não poderia faltar ao protesto. “Como não defender a educação? Sem educação, como vamos ter um projeto de País, de desenvolvimento sustentável, de diminuição das das diferenças sociais?”, questiona. Ela também criticou o tecnicismo da educação proposta pelo ministro Abraham Weintraub. “Quando ele fala da educação sem discussão ideológica, o que ele quer dizer? Quer fazer os estudantes não pensarem”, definiu.

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