Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa de Santa Catarina (ALESC) realizou audiência pública para debater sobre as causas e consequências da depressão e estratégias para seu enfrentamento. Atualmente, esta causa tem atingido milhoes de pessoas, em especial na região sul brasileira. De acordo com a psicóloga e conferencista Anita Bacellar, “os estados da região sul têm os maiores índices registrados de adoecimento por depressão. Acrescenta ainda que nosso Estado detêm a segunda maior incidência”.
Marcelo Fialho, médico psiquiatra que atua na rede municipal de Florianópolis, cobrou mais recursos para as políticas públicas. Ressaltou os impactos que o desenvestimento nas políticas públicas, a exemplo da PEC 55, aprovada pelo Congresso Nacional que congela por 20 anos investimentos na saúde pública acima da inflação. A população continuará aumentar, assim como os índices de pessoas que adoecem. Reduzir os investimentos trazerá uma série de complicações para as pessoas que necessitam de tratamento.
O CRP-12 participou da audiência e questinou sobre a importância de pensar o fenômeno da depressão articulado as estruturas sociais e históricas que se articulam nestes sujeitos que sofrem. Não trata-se de negar negar a singularidade do sujeito que sofre, mas sim, colocar ênfase nos processos históricos que produzem sofrimento e desigualdade social e que se acentuam em determinados períodos históricos. É necessário destacar que vivemos num sistema capitalista global, numa ideologia do consumo que nos manipula para corresponder aos padrões preconizados pela sociedade como ideais.
Também foi problematizado se é possível falar sobre depressão sem falar sobre a patologização da vida? Por patologização da vida compreende-se a apropriação das ciências biológicas das condutas desviantes a uma norma hegemônica, tornando-as doenças que precisam ser tratadas e curadas. Logo, a crença de que comportamentos e sentimentos têm causas e origens físicas se proliferam. Valores sociais, culturais, políticos, passam a ser legitimados através do debate científico, principalmente biomédico, reduzindo a complexidade do vir a ser humano num mero corpo biológico, destituído de atividade humana.
Visando problematizar essa questão, a Comissão de Saúde e o GT Clínicas do CRP-12 provoca a pensar esse fenômeno para além de um diagnostico que reflete apenas questões de ordem orgânica/fisica, mas sim que dizem respeito as relações constituídas no cenário cultural e social. Neste cenário, duas questão são centrais no bojo dessa reflexão: A primeira diz respeito a quem interessa patologizar o sofrimento psíquico? Será que são estas pessoas consumidoras em potencial de medicamentos, expandindo o escopo de usuários da indústria do adoecimento e da indústria farmacêutica? A segunda questão é como enfrentamos esses processos que transformam maneiras de ser em doenças? Como promover práticas que caminham na contracorrente da patologização da vida e da disciplinarização dos corpos, discutindo no território ações possíveis frente aos conflitos e tencionamentos produzidos nesse mesmo espaço geográfico?
Créditos da foto: Solon Soares / Agência AL